Reggio Emilia – uma viagem transformadora

No passado mês de março, durante uma semana, participei num grupo de estudos em Reggio Emilia, organizado pela Associação Portuguesa de Educadores de Infância. 

Já conheço a abordagem há muitos anos, desde que comecei a trabalhar na Obra Social Paulo VI, assumindo-se a mesma como uma grande inspiração para a minha prática, quer como responsável pelo atelier (durante os  meus sete anos iniciais e nestes últimos dois anos), quer nos vários grupos que fui tutelando ao longo dos anos, assim como no papel de Diretora Pedagógica do Centro, na procura constante de desenhar um caminho comum.

Não havendo espaço para vos falar sobre esta viagem com grande detalhe, começo por referir que apesar de já ter lido e investigado muito sobre esta abordagem, sobre a sua história e sobre os seus princípios, esta experiência foi absolutamente transformadora para mim. Ver, estar, ouvir falar quem sabe, quem vive e quem educa em Reggio Emilia, visitar as escolas, perceber na prática como tudo funciona e se organiza, clarificou e iluminou algumas das ideias que eu já tinha, assim como me trouxe um conhecimento mais aprofundado sobre a abordagem que eu ainda não tinha. Nem tenho ainda, na verdade, pois esta é ainda uma viagem inacabada.

Não vos vou aqui falar da história, nem explicar a abordagem, pois neste formato não é possível, mas vou elencar quatro aspetos que para mim foram muito significativos (haveria outros), e que trago como renovada inspiração. 

Grande sintonia pedagógica entre todos: É quase como uma linha invisível, algo que não é palpável, mas que se sente e se bebe nas palavras, nas imagens e nos espaços que foram visitados. 

Ao ouvir as experiências e projetos que foram sendo narrados ao longo da semana, senti uma grande conexão entre eles. Os princípios da abordagem estão sempre subjacentes naquilo que é feito, tudo está muito bem alinhado, os valores são comuns. As pessoas, os professores de todas as escolas de infância da cidade, parecem falar a mesma língua e tudo faz muito sentido. Essa sintonia entre os princípios e a ação, e sobretudo entre todos os intervenientes no processo educativo (município, pedagogos, escolas, professores, comunidade) encantou-me. As crianças estão na cidade! Fiquei verdadeiramente encantada e ainda estou em processo de digestão de tudo aquilo que ouvi e que vi. 

Valor que é dado à beleza e à estética: Já o sabia, claro, mas nada substitui o estar lá e ver com os próprios olhos. Tive oportunidade de ver isso não só nas comunicações (que denotam uma forma de olhar a infância que já de si é bela e poética), mas igualmente nos espaços. Espaços belos, organizados como um permanente convite às mãos e mentes curiosas das crianças, sempre em relação com o exterior, com o lá fora, tornando evidente uma relação, que se quer íntima, com a natureza. 

O papel da Documentação Pedagógica: Observar a documentação in loco, foi igualmente bastante significativo. Para além da forma cuidada e bela como é feita, sente-se verdadeiramente a presença das crianças e do seu pensamento naquilo que é desenvolvido, constituindo-se a mesma não só como memória do que é feito, mas igualmente como ponto de partida para o relançamento das atividades. 

Por fim, o papel do educador, como observador e intérprete atento da ação e do pensamento das crianças, alguém que verdadeiramente acolhe os seus pontos de vista (expressão muito usada durante todo o curso), que os sustenta e lhes dá continuidade. Um educador-investigador, que se coloca ao lado das crianças, também ele um aprendiz. 

Termino assim, sem dizer muito, mas com uma certeza. Já a tinha, e esta experiência veio confirmá-la. Nada se faz individualmente. Se é para andar, melhorar, inovar, mudar, crescer como escola é preciso fazê-lo juntos e construir uma consciência e um sentido comum. 

Espero um dia poder voltar. 

Visita ao Colégio Montesión – Palma de Maiorca

De coração aberto e com enorme expetativa, chegámos ao Colégio Montesión, em Palma de Maiorca, para conhecermos a sua realidade educativa.

Fomos recebidos, com enorme simpatia, pelos Diretores dos Ensinos Primário e Secundário que, de forma simples, mas muito motivadora, nos fizeram uma abordagem explicativa do contexto específico do seu Projeto Educativo.

Foi destacada a forma como procederam à reforma pedagógica e ao processo de mudança educativa que desenvolveram em 2016/2017. Salientaram que o momento inicial e decisivo foi a clarificação das razões da mudança e dos objetivos a alcançar. Durante um ano letivo preparam-se em duas vertentes: a formação dos Professores e as alterações estruturais do edifício. Estavam conscientes de que a mudança dos espaços e dos equipamentos tinha de acompanhar simultaneamente a reforma curricular e pedagógica. Referiram que, no início, hesitaram e também tiveram algumas dúvidas, as quais foram superadas porque trabalharam em equipas de Professores que se conheciam muito bem. O “medo” deu lugar à confiança partilhada e à necessidade de construírem um novo modelo educativo que melhorasse os processos de ensino/aprendizagem favoráveis à formação integral do Aluno. 

As principais mudanças pedagógicas aconteceram na organização curricular, na adoção da metodologia de trabalho de projeto e na distribuição do serviço docente. Cada Professor leciona apenas um ano de escolaridade, trabalhando em codocência na planificação e preparação de todos os projetos e materiais, não existindo manuais escolares adotados. No entanto, nem todas as disciplinas trabalham em projeto, pelo que existem diversas metodologias e dinâmicas de aulas, sendo umas mais práticas e outras mais teóricas, em função das necessidades de explicitação dos temas a trabalhar. 

Simultaneamente, foram projetadas as grandes alterações nos espaços e equipamentos, tornando-se estes mais amplos e coloridos, mais tecnológicos e adaptados às novas dinâmicas letivas, onde o Aluno é o protagonista. As aulas acontecem em salas com mobiliário variado e multifuncional e em anfiteatros polivalentes para aprendizagens especificas. Nos dois dias que passámos no Colégio, foi possível observar um ambiente escolar tranquilo e alegre. Um espaço onde se estabelecem relações pedagógicas próximas, favoráveis ao ensino e às aprendizagens formativas e integrais dos Alunos.

Regressámos não só com a alegria do conhecimento, mas também com a consciência da importância de saber adequar a inovação pedagógica a cada realidade educativa, procurando sempre melhorar toda a dinâmica escolar em função de um objetivo maior – o Aluno no centro da sua aprendizagem.

Visita à OSMOPE (Porto)

Durante a interrupção letiva da Páscoa pareceu-nos pertinente visitar um jardim-de-infância fora da rede da congregação das Irmãs Doroteias. Decidimos visitar uma instituição próxima ao colégio, uma instituição particular de solidariedade social, mas sem cariz religioso, OSMOPE. Percebemos que para esta instituição a sua “matéria-prima da educação” são “pontes educativas”, ou seja, pôr fim à rigidez e rotina que existe nas escolas e por conseguinte fazer pontes que são, nem mais nem menos, ligações criadas entre a comunidade envolvente e a escola.

A experiência entusiasmou-nos na descoberta do que somos em sociedade, consciencializando-nos para a urgência de educar na multidiversidade, apostando também na constante e pertinente formação de todos os elementos da comunidade educativa.

A vertente artística também nos cativou, permitindo-nos compreender que nada é exposto ou escolhido ao acaso, nem o são os materiais selecionados. Há todo um sentido estético que é estudado e acordado pela equipa pedagógica através de um trabalho colaborativo que é realizado após cada formação.

Agradou-nos o facto de que as “pontes educativas” são realizadas com parcerias variadas: museus; universidades; ERASMUS; comércio local, galerias de arte; teatros, oficinas, Câmara Municipal do Porto e Ministério da Educação. A OSMOPE participou num projeto de educação com outros países da Europa (Bélgica, Polónia, Finlândia) “Bridging Project – Building Educative Bridges with the City”. Este projeto teve como objetivo melhorar a qualidade das práticas na educação infantil, através da participação de crianças, educadores e profissionais culturais em projetos artísticos em espaços públicos, ajudando crianças e adultos a tornarem-se cidadãos europeus ativos, fomentando a criatividade, a colaboração e a comunicação.

A razão e a necessidade do projeto advieram do facto de as sociedades estarem-se a tornar cada vez mais diversificadas e os educadores precisarem de novos instrumentos para reconhecer essa diversidade, de uma forma que alinhada com os valores europeus, contribuindo para uma cidadania ativa e sociedades democráticas, inclusivas e socialmente coesas.

O essencial deste projeto foi a forte colaboração entre e dentro de cada país, envolvendo não apenas ambientes escolares, mas também instituições culturais e universidades.

Destacamos a colaboração entre crianças, ambientes educativos e múltiplos espaços da cidade, dentro e entre países, facilitando novas formas de olhar, pensar e agir sobre o ambiente urbano, local e global. Com base numa metodologia de pesquisa-ação, vários ciclos de investigação, investigação-pesquisa, exploração-registo e divulgação, realizados de forma colaborativa, dentro e fora das escolas, usando a arte e as ferramentas digitais como meio de exploração e comunicação.

A exploração da própria cidade e da cidade dos outros contribuiu para que as crianças desenvolvessem conhecimento e atitudes relacionadas com a cidadania europeia, suscetíveis de influenciar as competências de aprendizagem ao longo da vida.

A colaboração interdisciplinar entre os diferentes parceiros internacionais apoiou a fertilização cruzada de diferentes discursos (educação, artes, música, sociologia, psicologia e arquitetura), permitindo uma operacionalização rica, eficaz e intencional do processo educativo de todos os envolvidos, levando a práticas de alta qualidade (Silvia Berény, in Bridging Stories).

Visita ao Colégio Montesíon – Palma de Maiorca

Nos passados dias 15 e 16 de janeiro, visitámos o Colégio Montesíon, em Palma de Maiorca. Fomos recebidos pelos coordenadores de ciclo, que apresentaram o modelo pedagógico do Colégio e o caminho percorrido na sua construção. 

O Colégio Montesíon mudou e … O que motivou a mudança? A iniciativa partiu do reconhecimento do distanciamento entre o sistema de ensino – modos de acesso e de transmissão do conhecimento – e a necessidade de dar resposta a novos desafios profissionais, adequando a educação à sociedade atual. A solução encontrada: transformar a escola!

Repensar a escola não foi um desafio menor. Pelo contrário, exigiu a todos os envolvidos uma postura flexível, colaborativa, analítica e com abertura a um entendimento da educação a partir de diferentes pontos vista. Foi necessário (des)aprender, abandonar hábitos, rotinas, “pré-conceitos” e … ilusões, para aprender!

Os professores visitaram escolas com modelos pedagógicos que procuravam ir ao encontro dos desafios colocados pelos alunos do séc. XXI e, a partir do que viram, da investigação e tendo como ponto de partida o público-alvo, redesenharam o modelo pedagógico de ensino-aprendizagem-avaliação do Colégio, modelo que não veem como um fim, mas um caminho que vão percorrendo e (re)adaptando.

O que mudou? (Quase) tudo! O foco passou do professor para os alunos, colocando a ênfase no envolvimento dos alunos na sua aprendizagem. Repensaram o sentido do trabalho do aluno, cruzaram aprendizagens, fundiram disciplinas e construíram projetos. Criaram ambientes ativos e dinâmicos, facilitadores das aprendizagens, adotando uma pedagogia de implicação, de criatividade, de autonomia, de colaboração, de iniciativa, de competências digitais (onde a tecnologia é um meio e não um fim!).

Esta mudança de paradigma pedagógico foi acompanhada por uma remodelação e reconfiguração dos espaços físicos, com evidentes consequências na pedagogia. As salas de aula foram equipadas com material flexível, evitando que a aula se torne estática, prestando-se, por um lado, a uma maior variedade de atividades; por outro lado, ao bem-estar dos alunos, permitindo apoiá-los nos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem.

Durante a visita, assistimos a aulas com todos os alunos envolvidos, estimulados a pensar/refletir criticamente, a resolver problemas e a trabalhar colaborativamente … construtores FELIZES da aprendizagem.A visita ao Colégio Montesíon foi um tempo de aprendizagem e de reflexão, que veio reforçar a ideia de que ser professor é um desafio constante; contudo, vincou a nossa vontade de (desaprender para) aprender, seguindo as palavras de Alexandre O’Neill: “Se estás a pensar ensinar/vais ter muito que aprender”.

pouco, GRANDE, possível

Sair de portas é sempre uma oportunidade para aprender e, por isso, queremos agradecer muito a possibilidade de termos visitado o Agrupamento de Escolas Gonçalo Mendes da Maia. Abriram-nos as portas de forma generosa e genuína e pudemos aprender com a diferença, mas também com a semelhança!

A visita a este agrupamento permitiu-nos observar que há um substrato comum que guia a inovação pedagógica e todo o trabalho educativo: as pessoas, os professores e a sua vontade de aprender, de mudar de se reinventarem para ajudar cada aluno a crescer mais e melhor. 

Foi este compromisso com o crescimento e a melhoria que observamos na forma como a candidatura à “Escola Azul” transformou os corredores e recreios refletindo as alterações nas práticas relacionadas com o ambiente; na forma como o “Projeto SuperTabi” (https://www.supertabi.com/)  alterou a prática pedagógica muito para além da integração das tecnologias, permitindo uma gestão flexível do currículo, uma individualização do ensino e o envolvimento ativo dos alunos na totalidade das situações de aprendizagem através de metodologias ativas de aprendizagem; na forma como a comunidade educativa e envolvente foi chamada a colaborar na viabilização de centros de recursos para apoio a crianças com necessidades específicas de apoio à aprendizagem e inclusão (unidades de ensino estruturado, sala de ambiente doméstico, sala snoezelen); na forma como os espaços vão sendo progressivamente transformados e melhorados de forma a darem uma reposta cada vez mais próxima às necessidades dos alunos: sala de ambiente tecnológico com espaços mistos de trabalho individual, em grupo e anfiteatro, instrumentos musicais como bateria e piano no espaço de recreio, cozinha equipada que possibilita simultaneamente a educação para atividades de vida diária e a demonstração da aplicação da ciência no quotidiano.

Observamos também como as famílias fazem a diferença no contexto educativo, colaborando com a escola em dimensões tão diversas como a construção de blogues de suporte ao trabalho de sala, doação de materiais, construção de equipamentos e colaboração na formação de outros pais.O agrupamento frisou o pouco que faz que nos pareceu GRANDE, sobretudo porque seguem um critério seguro: o do possível! Observamos assim como a existência de objetivos claros, realistas e partilhados por toda a equipa traz progressivas e transformadoras mudanças ao contexto educativo e aproxima a comunidade do seu perfil do aluno: Flexível; Educado; Livre; Inclusivo; Zeloso.

Um, dois, esquerdo, direito… – Domínio de Autonomia Curricular

Uma vez que a lateralidade é uma competência de aprendizagem muito relevante, e que na avaliação diagnóstica das crianças das turmas dos primeiros anos se identificaram fragilidades nesta área, a equipa educativa planificou um Domínio de Autonomia Curricular com o objetivo de colmatar as dificuldades sentidas, implicando a gestão curricular. 

As áreas disciplinares envolvidas foram a Matemática, a Educação Física, a Expressão Corporal e as Artes Visuais, tendo-se selecionado as seguintes aprendizagens essenciais: identificar, interpretar e descrever relações espaciais, situando-se no espaço em relação aos outros e aos objetos; lançar uma bola em precisão a um alvo fixo, por baixo e por cima, com cada uma e ambas as mãos; lançar uma bola em distância com a «mão melhor» (a mão mais forte) e com as duas mãos, para além de uma marca; integrar a linguagem das artes visuais, assim como técnicas de expressão, nas suas experimentações: físicas e/ou digitais; distinguir diferentes possibilidades de movimentação do corpo; utilizar movimentos do corpo com diferentes relações: entre os diversos elementos do movimento, com os outros, a par, em grupo, destacando a organização espacial.

Neste âmbito, as competências do perfil trabalhadas foram a confiança e a criatividade, bem como a resiliência, a persistência. Procurou-se que os alunos se sentissem motivados para aprender, sendo estimulados a refletir e encontrar respostas novas aos desafios, e a expressá-las de modo criativo, o que foi notório no atelier realizado no fim deste processo.

Durante quatro semanas, os alunos desenvolveram diversas atividades que procuraram ir ao encontro de diferentes tipos de aprendizagem (memória, memória visual, atividades rítmicas, jogos, etc.) para que conseguissem identificar a lateralidade primária (em si e em suportes visuais) e secundária (no outro e em suportes visuais), utilizado a música, o movimento e a escultura como base para as estratégias desenvolvidas.

A heteroavaliação foi feita através de grelhas de observação, construídas em equipa e utilizadas pelos professores, em parceria, no decorrer das atividades. A autoavaliação foi realizada a partir de grelhas de registo e preenchidas pelos alunos. De destacar, dois dos critérios utilizados para a construção das grelhas foram a fácil aplicabilidade e a leitura rápida dos resultados. 

Os professores entraram em contacto com a Fundação Calouste Gulbenkian que concebeu um atelier específico para consolidar estas aprendizagens, no qual os alunos aplicaram os conhecimentos adquiridos, em particular, o conceito de simetria, explorado por diferentes suportes e materiais.

A equipa educativa avaliou positivamente esta dinâmica, sugerindo-se que se mantenha no próximo ano letivo.

A Bússola que nos orienta:
Gestão do Currículo

A gestão curricular é uma prática inerente e quotidiana à profissão docente. O salto em direção à inovação neste domínio dá-se com a passagem do plano individual ao plano grupal e institucional. Em 2018, a Equipa de Inovação Pedagógica do Colégio Nossa Senhora da paz delineou um Plano de Ação para 2018/2020 e, mais tarde, para 2020/2023, tendo em vista a promoção da gestão flexível do currículo, ciente das vantagens que esta traria para os seus alunos. Um dos objetivos era introduzir nas aulas de todas as disciplinas desafios estimulantes, renovando por dentro o estilo de educar para que as crianças e os jovens se tornem, cada vez mais, protagonistas da sua própria vida. 

Porém, um processo desta natureza não pode ser isolado. É em contacto com os outros e com a partilha de experiências que crescemos e, por isso, desenvolveu-se um trabalho em rede, criando espaços de formação e de reflexão conjunta. Foi neste sentido que se desenvolveram, nos últimos anos, Oficinas de Inovação Pedagógica, a fim de dotar os(as) docentes do conhecimento científico e das melhores estratégias pedagógicas para fazer uma efetiva gestão curricular que se pretende flexível, articulada e funcional, promovendo verdadeiros momentos de investigação-ação.

Desde a planificação dos projetos até à sua implementação, professores e peritos trabalham em rede, monitorizando e avaliando os resultados obtidos ano a ano, criando espaços de partilha que fazem emergir o sentimento de confiança que nos faz avançar. 

No Colégio Nossa Senhora da Paz, a gestão do currículo tem-se desenvolvido através de projetos interdisciplinares que articulam diferentes saberes de diferentes disciplinas, tendo em vista a resolução de problemas. A eles estão subjacentes processos de pesquisa, momentos de trabalho cooperativo, o desenvolvimento de competências específicas e transversais e a criação de produtos finais variados.

No ano letivo de 2021/2022, no primeiro ciclo desenvolveram-se dois Cenários de Aprendizagem para cada ano, um em cada semestre, desenhados pelas professoras titulares de turma e pelos professores coadjuvantes. Já no 2º e no 3º ciclo do ensino básico e no ensino secundário desenvolveram-se 15 projetos interdisciplinares de gestão do currículo, que envolveram todos os ciclos e todos os anos de escolaridade. Destes, 7 projetos são de continuidade e constituem os projetos que já fazem parte da nossa tradição educativa e 8 são projetos novos, que revelam uma tendência de inovação e de criatividade permanentes. Os resultados destes projetos interdisciplinares são extremamente positivos e os alunos já percecionam as suas mais-valias e as mudanças efetivas que estes espoletam no processo de ensino-aprendizagem.

Cenário de aprendizagem e STEAM – uma conjugação feliz

Na sequência de uma formação para docentes sobre M.A.S. aliou-se o STEAM a um cenário de aprendizagem planificado para o 4.º ano, com o objetivo de estimular nos alunos novas formas pensar sobre problemas, que os levassem a sair da sua zona de conforto e a criar novas estratégias de forma criativa.

Pretendíamos potenciar, assim, o desenvolvimento de competências do Perfil dos Alunos, tão requeridas para o séc. XXI, como sejam o pensamento crítico e criativo, a resolução de problemas e a comunicação, tornando os alunos conscientes da sua própria aprendizagem e do seu conhecimento. Procurávamos, ainda, desenvolver capacidades de pesquisa e de colaboração, desafiando os alunos com tarefas de aprendizagem autênticas, de modo a anteciparem soluções para problemas concretos.

A questão-chave, “Como poderemos construir casas que nos ajudem a mantermo-nos saudáveis e felizes e que, ao mesmo tempo, não prejudiquem o nosso planeta?”, permitiu aos alunos emergirem da sua zona de conforto e etapa a etapa desenvolverem uma estrutura que reunisse uma série de critérios e que resultasse numa solução a ser testada e posteriormente usada. Foi-lhes apresentado o “STEAM Design Cycle” e cada fase deste ciclo foi explorada e trabalhada cautelosamente. No final de cada etapa, o grupo deveria avaliar o seu trabalho, verificando se os critérios daquela etapa tinham, ou não, sido cumpridos.

Ora, este projeto tinha como finalidade a criação de um protótipo usando uma caixa de sapatos ou outra caixa de papelão semelhante que reutilizassem para construir o protótipo, usando pelo menos dois materiais de origem local (deveriam poder ser encontrados na mata do Colégio, em quantidades consideráveis).

Para tal, os alunos recolheram e classificaram os materiais de origem local, escolhendo os que no seu projeto fariam maior sentido. Cada grupo apresentou à turma a sua escolha, justificando-a. Na etapa seguinte, os alunos desenharam o seu modelo recorrendo a pesquisas na Internet e finalmente puseram mãos à obra, começando a construir. 

Na última etapa, os grupos foram encorajados a analisar e a considerar melhorias, partilhando e avaliando a sua experiência.

Com este cenário de aprendizagem pudemos concluir que além dos alunos se mostrarem interessados na ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática, a experiência vivida proporcionou-lhes, também, uma maior proximidade com a vida real, oferecendo-lhes conhecimento científico e capacitando-os para resolverem problemas futuros.