A COMPAIXÃO QUE ROMPE ESQUEMAS

Chamei-vos Amigos… porque tudo o que ouvi de Meu Pai vo-lo dei a conhecer” (II)

Leitura

Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ove-lhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.
A hora já ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é deserto e a hora vai adiantada. Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de comer.» 
Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Eles disseram-lhe: «Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?» Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» Ordenou-lhes que os mandassem sentar por grupos na erva verde.  E sentaram-se, por grupos de cem e cinquenta.
Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus discípulos, para que eles os repartissem. Dividiu também os dois peixes por todos.  Comeram até ficarem saciados.  E havia ainda doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe.
(Mc 6, 34-43)

Graça a pedir

Pedir a graça de não ser surdo para ouvir Jesus que me chama a dar-lhe o pouco que tenho.

1º ponto – Jesus, através dos seus, dá de comer à multidão

Diante da multidão que O segue, Jesus enche-se de compaixão e senta-se para a ensinar como se não houvesse amanhã. Como se isso não bastasse, não permite que ninguém regresse a casa com fome. Aqui coloca-se um grande problema: os discípulos acham que não têm meios para alimentar a multidão.
Precisam de dinheiro, de grandes quantidades de pão, para o fazer; Jesus desmonta esta mentalidade que se justifica com o que não tem, com o que não pode, não sabe, para não mudar nada e faz olhar para o poder do pouco que se tem, que se é, que se sabe. O pouco, entregue a Jesus, surpreende até aquele que o tem.

“Dai-lhes vós mesmos de comer”. Convida-os a tomar parte dos Seus sentimentos alimentando a multidão. De facto, a compaixão faz romper qualquer esquema, é ela que move Jesus e o faz centrar-se nas necessidades da multidão.

2º ponto – Paula enche-se de compaixão e dá-lhes de beber

Paula tinha, diante de si, soldados “inimigos” sedentos de água, exaustos, jovens sem força. Paula enche-se de compaixão e dá-lhes de beber. Dá-lhes do que tem, fez com estes homens exatamente o que Jesus pede aos Seus discípulos: “dai-lhes vós mesmos” e Paula responde “enquanto houver água para nós também haverá para vós”. É do que tem e com o que tem que sustenta a vida destes homens. Dá-lhes a possibilidade de não desfalecerem no caminho. Este é um gesto completamente desconcertante; o foco é a humanidade e não o “inimigo” porque a compaixão centra-se na pessoa e não no que ela faz.

“Os franceses tinham cortado a canalização da água para a cidade … um dos Comandantes, (Garibaldino) apresentando-se imediatamente no Conservatorio, mandou chamar a Superiora; e, apenas a viu, disse-lhe com sentimentos de viva gratidão: «Sei que, com tanta bondade, mandou dar de beber a dois dos meus soldados, mas há muitos outros que morrem de sede!…». A Madre Fundadora, sem esperar novo pedido, respondeu: «Nós só temos um poço, mas, enquanto houver água para nós, haverá também para vós». E a algumas Irmãs ali presentes mandou que imediatamente fossem tirar a água. «Oh, isso não – continuou o Comandante – nunca permitirei que as Irmãs se cansem por causa de nós. Mandarei os soldados tirar a água». «Senhor – disse a Madre Fundadora –, o poço está na cozinha… as cozinheiras são jovens…». «Não tenha receio algum – respondeu o Capitão – as Irmãs serão respeitadas por todos».

De facto, colocou guardas à porta, guardas na cozinha, guardas no poço, enquanto outros soldados tiravam e transportavam a água, e todos se mantinham em silêncio, com uma atitude tão respeitosa e modesta, que – como a Madre Fundadora costumava dizer, gracejando – pareciam Noviços Capuchinhos. Assim, enquanto noutros lados os garibaldinos entravam nas despensas e bebiam a seu bel-prazer, deixando de propósito as pipas abertas, aqui não quiseram aceitar sequer um copo de vinho e, longe de causar o menor mal, ao encontrarem-se com qualquer das Irmãs faziam-lhe com grande respeito a continência” (Memórias p. 101 e 102).

3º ponto – “Quantos pães tens? Vai ver.”

Jesus nunca nos pede nada que primeiro não nos tenha dado. Os discípulos achavam que não tinham a quantidade de pão necessária para alimentar a multidão. Só percebem o que têm depois de ir ver e o mostrar a Jesus. Quando Jesus pega na realidade transforma-a com abundância e surpreende os que estão com Ele. 

Paula reconhece que tem a água que aqueles homens procuram. É consciente do desafio que lhe está a ser colocado. Tudo é maior que ela. Encarnou o Evangelho e não tem medo de romper esquemas.

Quais são as fomes e as sedes dos homens e mulheres que se cruzam com a minha vida? Esta pandemia e as circunstâncias em que vivemos, que fomes, que sedes fazem desencadear nas pessoas?

Também a mim Jesus pergunta: Quantos pães tens? Vai ver. Acolho o pedido. Tomo consciência do tesouro que carrego, dou nome a tudo o que encontro e levo a Jesus. Escuto dele a quem me envia a alimentar. Alguma pessoa que perdeu um familiar, que está com medo, que sente os efeitos da solidão, que pode estar com a dispensa a ficar vazia. Que esquemas preciso de romper?

Converso com Ele como um amigo conversa com o seu amigo, entregando os medos e os desejos.

Terminamos este encontro deixando-nos interpelar pelo pedido – oração do nosso Papa Francisco que nos ensina a pedir um coração que se compadece, como Jesus:

“Muitas pessoas sofrem pelas graves dificuldades que padecem. Nós podemos ajudá-las, acompanhando-as por um caminho cheio de compaixão que transforma as suas vidas e as aproxima do Coração de Cristo, que nos acolhe a todos na revolução da ternura. 

Rezemos para que aqueles que sofrem encontrem caminhos de vida, deixando-se tocar pelo Coração de Jesus”. Pedimos-te isto ó Pai, que vives com Teu Filho na unidade do Espírito Santo. Ámen!

Bênção Final

Abençoe-nos o Pai com a Sua Omnipotência, abençoe-nos o Filho com a Sua Sabedoria,
abençoe-nos o Espírito Santo com a Caridade. (Santa Paula Frassinetti)